23.8.04

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3. Mistura de amarelos, castanho-outono e reflexos de vermelho-sol.

Há mistérios que não se explicam, sentires que não se escrevem, odores que não se desenham. Nem Joaquim, nem Gabriela conseguiam precisar como se encontravam a tomar um café, frente à Escola Secundária Infanta Dona Maria em Coimbra. Por onde andaram, depois de terem esbarrado com as recordações de cada um? Como preencheram o tempo que os levou de Entre Campos, a Santa Apolónia e desta a Coimbra? Como era possível ter encurtado o tempo à sensação do instante, quando percorreram espaço do tamanho de muitas horas? Não estavam a testar nenhuma teoria quântica, física, ou temporal, mas a sensação que os invadia em dúvida, é que tinham atravessado uma porta do Tempo, onde as suas vidas tinham ficado em suspenso. Parecia que tinham apagado os vinte anos que os separaram à mediada que os relatavam e ali estavam a conversar com uma intimidade estonteante, sem segredos, só entusiasmo.
Despediram-se sem promessas, estavam embriagados com a leveza que sentiam, queriam estar sós para saborearem o tempo que lhes fugia da memória e lhes aquecia o corpo e o sonhar…