4.12.04

fim...ou o recomeço de uma outra história que não será contada ( ultimo capitulo, deve ler-se do fim pra o principio)

De olhos fechados, Gabriela deixou-se ir até sentir a brisa acordá-la por dentro. Lentamente abriu o olhar e renasceu entre o azul e o verde. Ficara sem palavras envolvida num enorme sorriso que a aquecia por dentro. Explodia, aturdida em sentires e deixou-se voar.
Perceberam, sentiram que ali entre o céu e o mar se fundiam as suas almas, num só molde num só ser.
Já na praia ainda se sentiam gaivota. Sempre num silêncio recheado de sentires caminhavam agora. Abraçados, lado a lado, passo a passo, sem tempo. Percorriam as almas de cada um, numa viagem multicolor a um universo desconhecido. O deles num só olhar.

Joaquim não se lembrava da despedida, estava ausente na felicidade que o entrelaçava nos passos.
Percorria-se no seu ir. Pela primeira vez na sua vida ia, sem perguntas.
Deixava-se escorregar na vida.

Não se apercebeu do momento em que o chão começou a dançar e um cardume de luzes irrequietas saltitaram num repentino escuro que lhe toldou o olhar.
Uma dor brusca e dilacerante percorreu-lhe o corpo.
Uma única lembrança.
Um gesto, perdido no Tempo. O de levar as mãos em reflexo de dor sem grito, junto à cabeça. Era essa a lembrança que tinha, que permanecia, antes de um cobertor de vazio o cobrir. A sua ultima lembrança era de um banal, e vulgar reflexo…

Olá Joaquim!Olá Gaspar!

Gabriela estava sentada, serena a olhar uma enorme tela azul mar. Contemplava-a com ternura. Eram os seus azuis, aqueles que lhe deram vida e sentido.
Quase no horizonte estava uma pequena gaivota. Só de perto se percebia a gaivota, de longe intuía-se uma janela. Era essa pequena ilusão que tornara o seu quadro único e motivo de incessantes elogios. No canto direito, quase ilegível desenhava-se em sépia-sangue “Gabi, 2004”.

Gaspar sentou-se ao lado de Gabi, em silêncios mudos e estendeu-lhe a mão.
Apertou-a suave como um beijo. Gabriela sorriu.
A vida renascia-lhe no corpo e no olhar.
Duplicava-se…