16.10.04

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Foram, em silêncios. Caminhavam na noite de Outonos frios, na praia, iluminados pelos brancos das ondas, e pelos reflexos-prata de uma lua que insistia em estar presente, desinibida, cheia, num Novembro, calmo.
Sentiam-se, lado a lado, ouviam o mundo em passos que se passeavam sozinhos, lentos a parar o tempo. As palavras não se atreviam a espreitar, com o medo de quebra o encanto que os levava. Iam, sem tocar os corpos, sem uma mão dada. Tímidos. Sem palavras e sem corpos, em cumplicidades, senhores da vida.
Em momento que não souberam, as palavras jorraram, explodiram, primeiro espaçadas, depois em conversa que desaguava rio, naquele mar que os embalava. Ele contou-se de menino a engenheiro, ela, de menina a mulher de sonhos muitos, primeiro escritora-pintora, depois palhaço, depois terapeuta da fala.
Sentados, na areia, ela com o casaco dele, a esconder as mãos e o corpo, ele, quente-rubro de felicidade infantil e olhos num horizonte que não via, escondido na noite.
Contaram-se, numa ânsia de ligarem os destinos àquele momento. Abriram-se em segredos, nos amores e nos desamores. Riram, choraram, viveram, deram o tempo todo que tinham, a cada um, numa noite que não sentiram correr, num tempo que não existiu para eles.
Ao som das ondas, do mar, amaram-se, quando o sol pintou o céu de vermelhos de Outono.
Sabes Quim, hoje senti-me a voar…
A voar? Interrogou. Olhou para o relógio, era cedo, mas sabia que Laura, antiga colaboradora que criou uma empresa de formação profissional, mas que se especializara na motivação de equipas e no envolvimento em grupo, através de acções de interacção com a natureza e actividades radicais, estaria levantada, entregue já ao planeamento do seu dia. Ligou o telemóvel. Filhota? Viva, Quim, que bom ouvir-te! Já a trabalhar? Não, hoje não, ainda não. Para te ser franco, nem sei se vá hoje. Estás doente? Não Laura, mas preciso de um favor teu. Às ordens Chefe! Preciso de uma asa para dois e fatos de treino, quentes, dois. Estou na Figueira da Foz. Podes mandar alguém trazer o equipamento. Hoje? Na Figueira? E os Ventos, olha que está frio…Não é para já, por volta das quatro, o dia vai aquecer, não te preocupes, também não é por muito tempo. Tu mandas rapaz, onde queres o equipamento? Na serra, junto à Bandeira, pode ser? Eu própria levo. Para dois, dizes tu? Sim, mas não é para ti, pequenina. Logo vi. Até logo então. Um beijo!. Um beijo.
Uma asa? Pergunta Gabriela, com os olhos cheios de perguntas e de medos…
É surpresa. Agora vamos comer qualquer coisa. Vamos ao pão quente, estou gelado.
De corpos dados, foram, em silêncios desenhados no sorriso…

2.10.04

pedido de desculpas

Devo uma explicação pela (im)brevidade da pausa. Duas razões na origem. Uma primeira tem dedo familiar, da mana, (essa menina que aqui e ali comenta com o nome de nani). Tive a infeliz ideia de lhe contar o final da história. Não quis. Achou uma brutalidade, o final, para o nosso Joaquim e por arrasto o de Gabriela( devo ter contado muitas histórias das mil e um noites à minha mana mais velha, porque pelos vistos não gosta de finais reais, memo que levados pelo acaso. Mas é o acaso que molda a realidade. Não há fuga possível.) Ou seja não gostou dos acasos que conjugaram toda a trama da história. Eu, mano, mais novo, pus-me a pensar. Por isso pedi pausa. Mas mano mais novo é irreverente. Eu sou, mesmo que fosse mano mais velho. O final vai-se manter. Até porque não conseguiria escrever outro, pois história que se preze nasce pelo fim. Esta não foge ao destino, não fosse ela um historia de destinos. Este tem nome e chama-se Gaspar.
Causa segunda. Decisão tardia. Quando me revesti com as personagens, o tempo foi-se (Ou não fosse uma história contada sem tempo. Homem prevenido, tinha previsto que seria história aos soluços. Assim será.) Os afazeres tem sido muitos e se é verdade que vou pintando no “aguarelas”, este só vai vivendo em mim. Tenho mil palavras cheias do Joaquim, Gabriela e Gaspar, só para mim, guardadas no Tempo.
Não prometo quando…
Mas prometo um fim
O meu...